naquela cozinha, naquele domingo, os gestos lentos de duas ou três mulheres preparavam a refeição para vinte. uma travessa, feijão frade, atum, tomate, ovos cozidos e temperos. eles vinham em grupos, de quatro, de três, de seis, e por aí fora e iam servindo-se. sentadas a observar, as mulheres, também elas saciadas, sussurravam, 'repara como a comida chega, repara como estão todos alegres e em paz'. uma contabilidade improvável.
'antes de se começar a comer, a comida chega para todos', ouvi sempre a minha mãe dizer. e, ainda hoje, reparo, quando ela distribui a refeição pelos nossos pratos, nos gestos lentos dela, no servir.
todos os dias acontecem milagres que não vemos. fossem as pessoas mais lentas no agir, mais serenas no pensar, mais dedicadas no desejar, mais generosas na partilha, e o tempo dilataria.
'disponibilidade de coração', dizia-me ele num sonho.
Agora que aqui o leio, vetifico que é verdade. Tudo era diferente porque eram gestos mais lentos, aqueles de que me lembro. O contrário dos gestos de hoje.....
ResponderEliminaré verdade, Maria. e o tempo chegava para tanto...
ResponderEliminarque bonito :)
ResponderEliminartenho uma amiga do norte que antes de nos servir a comida perguntava: "queres que te deite?"
e tu querias. aposto :)
ResponderEliminar