terça-feira, 13 de setembro de 2016

cozinhar























preciso desesperadamente de cozinhar. de transformar. como se fosse da minha transformação que se tratasse.
corto vagarosamente a cebola. são duras as cebolas desta época, tenho que fazer força com a faca e ampará-la com as mãos para que não se desfaça. corto-a em pedaços mais pequenos do que o habitual, quero prolongar o gesto, o momento de atenção. ao lado, espera-me uma bacia cheia de coxas e pernas de frango. pedaços de animais mortos. não deixo de pensar isso todos os dias, os animais que morreram e a vida miserável que tiveram, para que eu possa ter ali aquela bacia cheia dos seus membros esquartejados. tu sabes.
mas cozinhar é dar nova vida, gosto eu de pensar, e quando o faço sinto-me terra, sinto-me fértil. por isso, hoje agarro-me com urgência a esta arte, hoje que me senti tão perto de ti tão longe, hoje que num segundo me senti tão vulnerável, tão frágil. hoje agarro-me aos meus cadáveres para que me segurem à vida daqui, de agora.










10 comentários:

  1. só coxas.
    as asas servem para voar...
    (manda chuva trovisco...)

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  2. Eu nunca poderia "prolongar o gesto" com a cebola, ana, choro que me farto. :)
    Mas sabes, também cozinhaste para mim.

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  3. nã gosto de coxas... de frango.
    se mandares as asas eu mando a chuva... prometo :)

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  4. estas cebolas não fazem chorar :)
    ainda bem, Teresa (quem sabe, um dia...) :)

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  5. c.o.m.b.i.n.a.d.o.! as minhas asas, pelo teu mau tempo :)

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  6. Combinamos um frango inteiro: eu gosto mais do peito. :)

    um bom dia para ti, ana.

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  7. eu também gosto mais do peito :)
    bom dia para ti, Teresa.

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  8. estava tão bom, este teu "prato", Ana.
    adoro os teus cozinhados.

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