preciso desesperadamente de cozinhar. de transformar. como se fosse da minha transformação que se tratasse.
corto vagarosamente a cebola. são duras as cebolas desta época, tenho que fazer força com a faca e ampará-la com as mãos para que não se desfaça. corto-a em pedaços mais pequenos do que o habitual, quero prolongar o gesto, o momento de atenção. ao lado, espera-me uma bacia cheia de coxas e pernas de frango. pedaços de animais mortos. não deixo de pensar isso todos os dias, os animais que morreram e a vida miserável que tiveram, para que eu possa ter ali aquela bacia cheia dos seus membros esquartejados. tu sabes.
mas cozinhar é dar nova vida, gosto eu de pensar, e quando o faço sinto-me terra, sinto-me fértil. por isso, hoje agarro-me com urgência a esta arte, hoje que me senti tão perto de ti tão longe, hoje que num segundo me senti tão vulnerável, tão frágil. hoje agarro-me aos meus cadáveres para que me segurem à vida daqui, de agora.
podias fazer umas asinhas para mim :)
ResponderEliminarsó coxas.
ResponderEliminaras asas servem para voar...
(manda chuva trovisco...)
Eu nunca poderia "prolongar o gesto" com a cebola, ana, choro que me farto. :)
ResponderEliminarMas sabes, também cozinhaste para mim.
nã gosto de coxas... de frango.
ResponderEliminarse mandares as asas eu mando a chuva... prometo :)
estas cebolas não fazem chorar :)
ResponderEliminarainda bem, Teresa (quem sabe, um dia...) :)
c.o.m.b.i.n.a.d.o.! as minhas asas, pelo teu mau tempo :)
ResponderEliminarCombinamos um frango inteiro: eu gosto mais do peito. :)
ResponderEliminarum bom dia para ti, ana.
eu também gosto mais do peito :)
ResponderEliminarbom dia para ti, Teresa.
estava tão bom, este teu "prato", Ana.
ResponderEliminaradoro os teus cozinhados.
que bom, Laura :)
ResponderEliminarobrigada!