domingo, 7 de agosto de 2016

sem o saber













ele veio. pus no frigorífico um vinho frisante, rosé (lembrei-me de ti), e preparei o almoço. ao primeiro golo, senti um peso ardente da cintura para baixo e coloquei o copo de lado - faz-me mal, bebe-o tu. ele comeu e bebeu, bebeu e comeu, comeu e bebeu a garrafa toda. escolheu um filme para mim, 'A Profecia', e adormeceu no sofá. quando acordou, tomou três copos de água, um café e disse que se ia embora. 'olha que aquele vinho...não te esqueças que eu sou teu amigo...deu cabo de mim...tu tens poderes para me mandares embora'. eu rio. como de costume, rio - não te esqueças de nada, não quero que voltes - e rio, e ele foi na hora em que eu precisava de ficar sozinha.

este homem, não sabe, mas põe-me no caminho aquilo que eu preciso no momento. faz as coincidências acontecerem. se eu souber ter paciência e escutar, ele diz-me, sem o saber, o que eu preciso de ouvir.

sem o saber, trouxe-me-te, calou-me respostas que tu respondeste, enviou-me livros sobre o que escreveste, respondeu-me a perguntas que deixaste em suspenso, enviou-me poemas que tu publicaste.

hoje, fez com que me apaziguasse com conflitos que ele desconhece, trouxe o filme que eu sem saber, precisava ver, bebeu o vinho que o fez sair, precisamente à hora  em que eu precisava de recolher.

ele não sabe, e eu sei que são coincidências.














2 comentários: