terça-feira, 19 de julho de 2016

rerrerrerrelembrando













era a pessoa improvável de encontrar, ali, naquele sítio, àquela hora. a senhora família perfeita, menina em paris pelas férias grandes, todos os anos, ele entre lisboa e a terrinha, marido perfeito, pai impecável, companheiro e apoio, ela, professora de francês, organizada, metódica, segura das suas decisões, correctíssimas. enfim, o tipo de gente com quem não me dou, excepto num jantar ou outro em que regada com muita sangria, solta a fera de dentro dela e o animal sôfrego por sexo selvagem e nos faz rir a todas. enfim, fora isso, fico deprimida com a perfeição da vida dela, 

mas hoje, aparece-me ela no pomar, e a pergunta do costume - como estão os teus filhos? - e a resposta do costume - eles acham que estão bem - e a gargalhada do costume a fazer de conta que sou totó - e o ar de pêsames quando me dizem - os três na faculdade, não deve ser fácil - e a resposta do costume - tudo sempre se resolve.

mas vai daí, que a amiga perfeita resolve contar-me da irmã, que com quatro filhos, todos eles já crescidos e adultissimos, filhos dos mesmos pais, criados da mesma maneira, e não é que um que só deu trabalho toda a vida, não queria andar na faculdade, lavava o cabelo com ovos mexidos, chega aos 26 anos e resolve pedir uma segunda oportunidade à mãe e tira o curso de farmácia, e é um óptimo profissional. já outro, óptimo estudante, licenciado em direito, estagiou nos melhores escritórios nacionais e estrangeiros, com lugares prometidos em todo o lado, perde-se da cabeça por uma brasileira e desgraça tudo o que conseguiu, carreira, dinheiro, tudo, com fins-de-semana loucos no brasil, com férias loucas da brasileira, cá, com o dinheiro de sabe-se muito bem que, diz a minha amiga. 

eu ali, deus me perdoe, deliciada a ouvir. todos os improváveis da pessoa improvável. a minha vida também improvável, a pensar, que só anjos, só anjos, nesta fase da minha vida, poderiam fazer aquele momento acontecer, para me rerrerrerrelembrarem que tudo muda, que não adianta antecipar dramas, preocupações, nadica de nadica.














2 comentários:

  1. Acho que foi Ghandi que disse qualquer coisa do género:
    "não adianta preocupares-te com os teus problemas. Nada de bom vira de te preocupares. Todos os problemas que têm solução acabarão por se resolver. Todos os que não têm nunca se resolverão. Por isso, para quê preocupares-te?"

    :)

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  2. é verdade Gil, obrigada :)

    por alguma razão o Ghandi tinha mais apoiantes do que eu :)

    boa quarta :)

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