quinta-feira, 23 de junho de 2016

o pardal























o pardal veio morrer para aqui, para a varanda. pousou, com as penas daquela forma que eles têm quando estão doentes, pôs a cabeça debaixo da asa e assim ficou. não fugiu quando me aproximei para pôr comida mais perto dele. não se assustou enquanto pendurei a roupa no estendal. mais nenhuma ave ali pousou enquanto ele esteve, como se respeitassem aquele recolhimento. eu, esfreguei as mãos uma na outra, pedi a ajuda dos anjos das aves e dos espíritos das árvores para que acontecesse o que fosse melhor para ele, e aproximei-as dele, em concha. elas aqueceram, aqueceram muito, o pássaro permaneceu quieto e os meus olhos fechados viram uma ave transparente levantar voo. percebi que ele partia ficando liberto daquele corpo doente que em breve tombaria na floreira. apanhei com cuidado aquele ser ainda com vida, deitei-o dentro de um vaso sem terra, e nesse instante deixou de respirar. a ave já tinha partido, o pardal morreu ali. 















6 comentários:

  1. Que morte tão bela, ana, o pardal confiou-te a vida para que pudesse morrer serenamente. E isso...

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  2. devo ter sido pardala noutra encarnação, Teresa. ainda trago algumas penas coladas à pele. quem sabe, reconheceu-me :)

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  3. poder morrer em paz, é uma coisa bonita de se poder, depois de se viver em alegria :)

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  4. Que texto lindo, ana. (Aconteceu mesmo assim?)
    Hoje à tarde, sentada numa esplanada junto ao rio, vi um pardal pousar perto de mim, era um macho, lindo, vinha ver se eu só bebia alguma coisa ou se comia e produzia migalhas. Lembrei-me de ti.
    Bom fim de semana, ana do campo à beira-mar. :-)

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  5. (foi mesmo assim, Susana)
    que bom, lembrares-te de mim, numa esplanada junto ao rio :) (moro junto ao rio)
    bom fim de semana, para ti :)

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