quinta-feira, 23 de junho de 2016

de passagem















vou a pé para o local onde me vão desmontar os aparelhos que fazem de mim um robot cop, versão feminina, e o meu corpo já cansado daquele cansaço ao contrário, que começa de manhã e vai acabando lá para a noitinha, repara que há tanto tempo não fazia aquele percurso, para cima, em vez de para baixo, para o rio, e, que naquela hora tão parda do dia, há vidas por todo o lado. que há vida para além do 2º direito.

a marta varre, como de costume, tomando conta, com aquele vaivém da vassoura, de todas as pessoas da redondeza. bom dia marta! digo eu, vendo ali aquele bocadinho do quénia que escapou à desgraça das notícias que me passam pelas mãos. bom dia! diz-me ela, bom são joão! grita, pois eu já tinha passado a pensar naquela vez que ela disse - a senhora sabe falar com os pretos - como se se falasse diferente com os pretos -  e eu a rir.

mais à frente um carro daqueles que parece de brincar, como aquele em que o meu filho anda por vezes e que explicou o pai à juíza que só o comprou para mostrar ao filho como se faz um mau negócio e eu a pensar que ele ri-se com um mau negócio propositado enquanto não ajuda na educação dos filhos com uma pensão de alimentos e que ali deve haver alguma coisa que não bate certo e que se calhar sou só eu que penso isso e que talvez isso também seja sinal de que eu estou ao contrário em mais coisas para além do cansaço. (este parágrafo não merece vírgulas)

[caramba, os pardais parecem doentes, ou será das orvalhadas do são joão?]

há quem deixe tigelas de água limpa nos passeios para os animais sem dono, deve ser boa gente.

já escrevi demais e já estou atrasada.















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