terça-feira, 5 de abril de 2016

subtil




















se havia coisa que o pai dos meus filhos acertava, era quando dizia que eu (na altura) ficava sempre espantada a olhar para os meus meninos, que ficava com expressão de quem não percebia como tinha sido capaz de lhes dar vida (eu não acho que tenha dado vida a ninguém). ele tinha razão. nisso, e em tudo o que dizia, tinha a razão dele, para ele.

mas o que interessa é que sou feita de espanto. todos os dias me pasmo perante um amanhecer, um céu estrelado, o mar, o mar que consegue ser diferente a cada segundo, o vento, a simplicidade das violetas, a fragilidade e resistência dos pardais, a poesia de eugénio, e, recentemente de ramos rosa, o amparo do casal que atravessa a rua, o toque da pele e o sabor de um beijo. eu sou aquela que segue lentamente, todas as manhãs, pela marginal, para desespero de quem saiu atrasado para o emprego...

espanto-me sim, com os homens que sairam de mim. meninos homens, que me deixam sem palavras de cada vez que se manifestam como seres humanos, que me tornam incapaz de um castigo, uma reprimenda, pois fico tão parva da minha vida a pensar como deus pode ser tão picuinhas e criar assim, tudo com um sentido tão subtil, que agora usa-se tanto este termo subtil e soa-me a chique e dá para tudo, que ele é tudo.


voltarei ao assunto. 
sabes que temos tantos assuntos suspensos...?













4 comentários:

  1. subtil é também o que encontro de belo neste texto, Ana...

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  2. António Ramos Rosa é muito bom :) tem um poema que se chama "Mãe" deve encaixar em ti :)

    beijinhos

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  3. que bonito, vizinha. não conhecia. obrigada!
    beijinhos :)

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