sábado, 7 de novembro de 2015

casa






























ali, todos, que por acaso são poucos, tentam descobrir-se a si próprios. e partilham, porque tudo o que se passa dentro de cada um, diz também respeito aos outros, e faz sentido, de facto, as histórias cruzam-se, há pontos em comum, algo em cada um dirige-se também a quem se dispõe a estar ali, naquela roda, sem excepção, tudo é para todos, se quiserem estar atentos. 

encostado à parede, ele fala do que sentiu, do que viu, do que ouviu. que o medo que ele tenta ignorar é o de não se sentir em casa, em lado nenhum. a mulher ouve-o e sabe do que ele fala. nunca, também ela, se sentiu em casa, sentiu o lar, a protecção, o amparo. e foram tantas as casas onde morou, e bonitas.

sabes, e esse desenquadrar, esse não te sentires em casa, pode nem ser de paredes que se trata. 

o outro homem que os ouve, aquele que sabe coisas que não são de cá e vê o que não está visível, olha para ela, para a que falou, e diz-lhe, esse sentires-te em casa, é o sentires-te no outro, a dois, ouviste? é a entrega, a partilha, a honestidade, a verdade. quantas vezes fingimos porque não nos julgamos merecedores daquela pessoa e vivemos uma vida de faz de conta. não, é de confiança que se trata, isso é sentires em casa.

a mulher ouve-o. ele sabe, que antes de tudo, ela tem que se sentir em casa dentro dela. também, sem máscaras, inteira e confiante. 

o outro, ainda encostado à parede, vê-se ali, mais uma vez. despido.












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