segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Deus a ajude














“Evening, Lake Como”











ao sair daquele espaço, depois de ter ido tentar endireitar um galho (tu sabes, nesta minha vida de andar a saltar de galho em galho), segue pelo passeio daquela terrinha de pescadores e de ruas estreitinhas. encostado a um carro, no passeio está um homem, grande, barriga deformada por um mal qualquer de dentro e a pele do rosto macilenta. ao cruzar-se com ele ela baixa os olhos, projecta-lhe um símbolo de cura, daquelas coisas que ela tem a mania de aprender, e pede em silêncio 'Deus te proteja e ajude...'.
ao conduzir de volta para casa, o homem faz-lhe sinal da berma da estrada, para que pare. ela para e fica a olhar para ele enquanto a muito custo se atravessa em frente do carro. camisa de pijama fora de umas calças velhas mal presas por um cinto que se desviou de algumas presilhas. dos cantos da boca correm duas gotas de saliva e os olhos estão ramelosos. em vez de seguir para o outro lado, faz-lhe sinal para que abra a janela por onde lhe pede que o leve, não percebeu ela aonde. ela vacila, o homem pode sujar-lhe o banco, e se ele está incontinente?, e se ele lhe faz mal?, e se ele não regula da cabeça... no mesmo instante o 'Deus te ajude e proteja' cai-lhe em cima. como tudo na vida. caramba senhor, eu sei que disse, mas...tira-me deste filme...
diz-lhe que sim, que entre mas que lhe indique o caminho, que não é de lá, que não sabe o caminho. - muito obrigada, é que me custa muito andar - e mostra-lhe as pernas, as embrulhadas em gase e os pés que mal cabem nos chinelos que traz mal calçados. Deus a ajude e lhe dê muita sorte - obrigada, para si também e as melhoras - para si também, repete o homem - Deus a ajude - repetiu várias vezes... - já ajudou, pensa ela, já ajudou.















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