quinta-feira, 10 de julho de 2014

pardais

























a mulher acorda várias vezes durante a noite. nem acredita que tem dormido. desde que aquele xamã lhe soprou na cara que só dorme cerca de três horas por noite, levou-lhe o sono no sopro e disse-lhe que era para a despertar para a vida. mas esta noite voltou ao normal, dormiu, acordou com o barulho dos rapazes a prepararem comida às cinco da manhã, tornou a adormecer. está recuperada. levanta-se e cumpre o ritual dos últimos tempos. bebe água, toma um duche, prepara uma taça de cereais com fruta e iogurte, desfaz pão seco e vai para a varanda onde deita as migalhas aos pardais. senta-se do lado de dentro, junto à porta de vidro, o sol já aquece e é bom. come devagar enquanto saboreia o pequeno-almoço e o momento. aprendeu a saborear cada instante, cada paladar, cada odor, cada cor, cada som. está viva, pensa, é bom, viver é poder mudar tudo, ou não, é escolha. os pardais não vieram.

















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