domingo, 1 de dezembro de 2024

do dia

 



a mulher de 88 anos inventa forças que não tem para limpar a piscina. a água esverdeou com o calor fora de época, e, com as agulhas dos pinheiros que caem com a insistência de quem quer vergar aquela já tão pouca vontade. antes de escurecer ainda quer limpar os caminhos e verificar as sebes.

naquele fim de mundo está ela, a casa, a ajuda da outra duas vezes por semana e as duas amigas que de vez em quando a visitam e levam compras.

não são poucas as vezes em que chora. o corpo está cansado e não sente razão para viver. 

ela e a casa. o marido morto. uma vida dedicada um ao outro.

mas há pessoas que apenas por estarem e serem, são raízes para outras vidas. a mulher não sabe, que enquanto limpa os caminhos, é exemplo e bússola para outros passos. é esperança. 




2 comentários:

  1. Muito bem lembrado Ana o flagelo da solidão, especialmente na velhice, mas não só...
    A solidão, quando chega, não é igual para todos. Os mais velhos (mais de um milhão em Portugal), vivem sozinhos com ela. Os mais novos não, e segundo o Expresso, a culpa é do mercado imobiliário.
    "José já perdeu os anos ao tempo em que vive sozinho. Não só em casa mas no prédio inteiro situado na Rua Gomes Freire, em Lisboa, mesmo em frente à sede da Polícia Judiciária. Só o seu 1º andar de sete quartos escapa aos tapumes, que cobrem todas as portas e janelas dos restantes três pisos. Tantas vezes à varanda, é ele o único sinal de vida".

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    1. Obrigada, Joaquim. Faz falta a vida em comunidade e a valorização dos mais velhos.

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