domingo, 30 de abril de 2023

destas coisas da vida

 




Não apontes o dedo a uma mãe. Não há más mães. Há mães que fizeram aquilo que souberam conforme o grau de consciência que tinham em determinada época das suas vidas. Há mulheres que carregam passados, que carregam vidas, que até elas mesmas desconhecem.

E depois há isto do instinto maternal, que faz com que queiramos o melhor para os nossos filhos, que nos torna feras perante uma ameaça, que nos faz trabalhar em excesso para que não lhes falte nada, para que não lhes falte coisas que nem fazem falta. E depois há o cansaço e o tempo a passar. E eles a passarem também, de bebés para crianças, de crianças para adolescentes, de adolescentes para adultos. Os nossos meninos a ficarem com cabelos brancos, e nós a pensarmos como é que foi possível, assim, aquele bebé no nosso colo de repente com cabelos brancos. E nós, que nascemos mulheres, a sermos para sempre mães, a querermos poder pôr para sempre comida na mesa, mesmo com um colo vazio.

[Os pais que me perdoem, mas nunca serão mães, nunca terá sido da carne deles que se formou o corpo do filho, do sangue deles, o sangue que os alimentou.]

E além de tudo há os outros, os que apontam, os que dizem que devias ter feito melhor, os que dizem que não devias ter feito tanto, os que dizem que tens um ar cansado, os que criticam tudo depois de estar tudo feito. E apontam, e comparam, e acusam, e elogiam, enquanto uma mulher fez o que soube, conforme soube, e viu os filhos crescer, com sorte, com a Graça de Deus.

 



3 comentários:

  1. Parabéns, Ana...Só uma grande Mãe poderia escrever um texto tão fidedigno sobre o que é ser Mãe.

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