quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

a gabardina beije

 



a gabardina beije, a mala que salva vidas, larga, de couro castanho, o rápido passo curto que se alenta quando a vê ao longe, e pára. 

a mulher que lavava futuros continua na sua direcção. afinal de contas tinha pedido àqueles com quem falava e não via que lhe pusessem no caminho o caminho. e o jardineiro de pessoas ali. aquele a quem chamava na intimidade do seu ser de 'o meu amor bonito'. bonito porque a fizera ser quem sempre tivera medo de ser - se é que o forasteiro entende.

então ali, naquele lugar onde o protagonista seria atingido pelo tiro certeiro do atirador, trocaram abraços e tocaram-se os lábios. as mãos nas mãos. o mundo todo ao contrário. tudo sem poder ser o que estava a ser. tudo a ser o que não queria que voltasse a ser. e tudo a ser.

depois, os dedos sobre os lábios para que não arrefecesse o morno dos dele. os braços vazios, cheios do abraço dele. e o cabelo, a maciez do cabelo dele, plasmada na palma da mão dela.

era vê-los, forasteiro, como se não se tivessem passado anos a cimentar todas as distâncias, excepto a distância.




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