terça-feira, 20 de setembro de 2022

da praia

 





poder-se-ia dizer pela cor das pernas daquela mulher que não pisava um areal há muito. poder-se-ia também dizer, pela roupa que trazia, que não tinha previsto estar ali.

mas ninguém poderia dizer da sofreguidão da sua pele pela água do mar, ao caminhar. da água que se apresentava morna e mansa naquele fim de dia de sol pôr. ninguém poderia dizer que a cada passo se reconciliava com memórias longínquas, que cada salpico era uma diálogo consigo mesma.

também ninguém sabe do burburinho que trouxe no seu corpo, da mão que pousa no peito como quem pede que a recordação daquele sentir lá fique guardada, dos pedidos que fez enquanto o sol mergulhava em tons que só ela viu.

que a inveja faça com que eu me supere

que a falta de confiança faça com que eu me aperfeiçoe

que a dúvida faça com que eu me instrua

que o caminho me apareça e que eu o saiba ver, e vendo-o que o faça

e ninguém diria, ao se cruzar com ela, ao volante do automóvel, do sol que trazia no peito, da correnteza nas veias, da areia guardada nos pés.

mas eu sei








4 comentários:

  1. Gostei do germinar do texto sobre o branco do papel e das pulsações motivadas pela presença do mar.
    Um abraço,

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  2. Querida Ana, como não havia de saber...claro que sabe quase tudo sobre o mar. Um beijinho e muitos, muitos parabéns!

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