quinta-feira, 17 de maio de 2018

talvez








eu não sei há quanto tempo as cores se tornaram tão vivas para mim, mas não foi há muito. um dia, ao aproximar-me da beira do rio, admirei-me com o verde da outra margem e surpreendi-me com a cor branca do kayak que cortava o cintilante escuro da água. também já há algum tempo que, sempre que posso, passo horas, neste aparvalhamento de não fazer nada, a olhar para os tons luminosos das folhas das árvores ao moverem-se ao sabor do vento, e nas tonalidades prateadas das nuvens no céu, quando o firmamento não me apresenta este azul monótono, como hoje.
...
esta manhã, com os raios do nascer do sol a incidir na mesa onde tomo o pequeno-almoço, reparava na cor de laranja da tangerina que descascava, e surpreendi-me com a perfeição dos gomos e o seu sumo doce ao desfazerem-se na minha boca. juntei os pequenos caroços, um a um, um potencial de vida, um pomar de tangerineiras.
- o que é isto?
pergunta-me um dos rapazes durante o almoço
- é um pomar de tangerineiras
arqueia as sobrancelhas, olha-me de lado, mas eu insisto
- não achas? já viste como é fantástico? a qualidade e a potencialidade de um pequenino caroço...
encolhe os ombros, emite um sei lá, e eu penso que chegará um dia em que ele verá, também, num amontoado de caroços, um pomar, e talvez pense que só por isso, por tamanha complexidade em algo tão simples, possa existir deus
















4 comentários:

  1. acredito que alguns consigam, sim.
    há certos dias em que vejo.

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  2. li este verso e lembrei-me de imediato do teu texto, tão belo.

    «Se engulo um pinhão
    porque não me cresce dentro
    um pinheiro?»

    Daniel Jonas

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