Hur(y)can

Preciso que ele amacie os meus medos para que eu possa adormecer, e então peço-lhe que me fale da matéria negra, na esperança de que me diga que não, que o negro não existe, que o escuro estará sempre ponteado de luz. 

E ele, o deus das tempestades e do vento, fala-me de coisas que eu não entendo, eu que que trago os bolsos cheios de estrelas para que a noite nunca seja triste, que escondo lesmas coloridas entre os fios dos meus cabelos, para que ele as encontre quando quiser inspirar maresia, e elas entram-lhe pelas crateras do nariz, e eu rio, e quando rio ele ri também e fica menino outra vez, e para me arreliar fala-me da bolha de vácuo, e diz-me que vai engolir todo o universo e todas a.s. m.i.n.h.a.s e..s..t..r..e..l..a..s…, todas, equeelasnemvãosentir,comosetalfossepossível,asminhasestrelasnãosentirem…

Fecho os olhos, finjo que adormeço, para que ele pare de me contar aquelas coisas que me fazem pesadelos onde vagueio no escuro perseguida por criaturas negras que fazem com que eu perca a capacidade de voar e quase quase me apanham. 

Quando ele deixa de olhar para mim, espreito e vejo-o a abrir o peito e a desenrolar fios de lágrimas do coração, prateados, para unir o horizonte ao firmamento. Com os fios que sobram dos seus desgostos de amor, ele faz chuva mansa, que cai sobre o rosto daquela mulher que todos os dias passa perdida de si mesma, sem perceber onde acaba o mar e começa o céu, e os fios da sua chuva, tornam-se lágrimas doces nos olhos dela.