Hoje acordei pouco flexível. Quase que poderia dizer, zangada.
Está frio. Acho que nunca senti tanto frio. A não ser naquela casa de madeira onde me costumava encontrar com o meu amado e onde aqueciamos num abraço tão apertado e longo, que os nossos corpos nus reflectiam calor sem necessidade de agasalho. Poderíamos ficar assim a vida toda, sem mais alimento, sem cãibras, sem frio.
Mas hoje acordei tolhida. A cama, em que os lençóis de algodão me refrescam no verão, agora são uma pista de gelo.
Levantei-me, obriguei-me a um sorriso ao espelho, e deambulei até à sala onde acendi uma vela e o pau santo com que me defumo para afastar resquícios de caminhos densos por onde a minha alma terá andado durante o sono. E pedi direcção, orientação, lucidez, sendo que lucidez pode ser algo igualmente frio, como o tempo.
Visto-me. Recuso o soutien. Já tenho apertos que cheguem. Pego no balde da compostagem e saio para a horta. Pode ser que os caracóis e as lesmas tenham morrido com o frio. Lamento, são criaturas como nós, mas também as pencas que espero que sobrevivam até ao jantar de consoada.
Minha querida, torço por si e pelas couves de Natal...que elas também permitam afastar o frio.
ResponderEliminarMuito obrigada. Torço por si, também :)
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