domingo, 31 de maio de 2020

nada









A mulher que tinha o hábito de beijar flores aproveitava o vazio das madrugadas para roçar os lábios pelas pétalas e folhas das plantas, numa identificação e agradecimento que não cabia em palavras.

Os dias tornaram-se silenciosos. Já nem lhe pesava a desilusão, ou a ausência repentina daquele que se fizera presente alargando-lhe a visão dos dias. Aquele lugar onde pousara o coração tinha sido tecido, sem que o soubesse, com delicados fios dourados vindos de uma realidade ilusória. Daquelas ilusões que abraçamos, fazendo delas dias, e dos dias, nada.

O texto parece-me inacabado, mas, às vezes os dias secam, apesar da nossa persistência em regar e em cuidar. E com os dias, secam as palavras, também. 















6 comentários:

  1. Nada disso, Ana! Não me parecem nada secas estas palavras.
    Se espremidas, dariam o sumo doce de um mosto feito de esperança... :)


    Um abraço
    (e que sejam feitas de beijos, as suas madrugadas.)

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  2. E quando secam as palavras, o desânimo da mente... instala-se.
    .
    Inicio de semana muito feliz

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  3. Ana, é muito bom chegar aqui e ler um texto destes.
    Que nunca lhe sequem as palavras, nem as ilusões...
    Beijo.
    🌻

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