Trago a alma presa a um ioiô. Numa ponta está aquilo que eu julgo ser e na outra está o vento com todas as suas orientações
De tanto caminhar contra a nortada, de tanto rodopiar com o vento sul na pele, de tanto reclamar pela falta dele, o vento entrou-me pelas narinas e tomou conta da minha alma, enrolou-a naquele objecto de madeira e brinca de a atirar, ora para os recantos mais sombrios, ruelas fedorentas, lamaçais imundos, ora passeia-ma pela espuma fresca das ondas, pelas alfazemas em flor, ou faz de mim rampa de lançamento para as andorinhas. É um desatino. A minha alma tem vertigens. A minha alma precisa de leitos mansos e frescos onde repousar
Pelo caminho, perco-me de mim. Acontece sempre naquelas vezes em que ele deixa o cordel desenrolar todo, para perto, tão rasinho ao chão, para de seguida o enrolar subitamente. E quando eu penso que sou, já não sou, e quando eu penso que estou, já parti.
Então escrevo sobre a minha alma para que não me esqueça: Eu Sou, Eu posso, Eu consigo, Eu regresso, Eu plano, Eu sobrevivo, Eu sereno, Eu transcendo, Eu pertenço, Eu abraço, Eu compreendo, Eu sinto compaixão, Eu sou ave, Eu sou terra, Eu confio, Eu renovo, Eu renasço
E trago os lembretes espalhados pelas algibeiras
E quando ele me atira para aqueles sítios escuros em que eu me perco de mim, em que eu não me reconheço, repito os recados, que escrevi para mim mesma, e repito tanto tanto tanto, que quase não deixo espaço para que a fenda se abra, a fenda por onde me fujo de mim, quase. Quase
Sem comentários:
Enviar um comentário