quinta-feira, 25 de julho de 2019

Chove, meu amor,







e tu sabes, saio para a rua e ando devagar.

A água cai morna e mansa sobre mim. As gotas molham-me a pele e os lábios, prometendo um remédio para esta minha sede sem nome próprio, que é a sede de não aceitar crescer ao contrário, de não aceitar que a vida que cresce em tempo, de nós um com o outro, se torne minguante em fogo, em luz, em riso, em tempo, em intensidade.

A água que cai do céu atenua os sulcos da pele no meu rosto onde se esconde a tristeza do amor que não se basta, e amacia-me a mim, por dentro.

Dizias

tu preenches todos os espaços 

e eu acreditei nessa imensidão que seria terra firme para todos os temporais deste mar imprevisível que trago por dentro e por fora de mim, destes dias que se atropelam entre batalhas e tréguas.

Crescer ao contrário é morrer lentamente, meu amor, e a chuva que cai hoje, mansa e morna, sussurra-me vontade de fazer dos dias semente. E eu não quero crescer ao contrário, eu não quero menos do que o tanto. Eu quero o tudo no pouco que seja, não isto, esta forma de estar, de anémona do mar, que se recolhe, quando a ameaça vem.










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