segunda-feira, 15 de julho de 2019

308









como estou? não estou muito bem. experimento durante o dia picos diferentes, que se sucedem com muita rapidez. não, não é ansiedade. acho que não. de um lado, tenho aquilo em que acredito, a aceitação da impermanência, viver o momento, não criar expectativas, acreditar num propósito divino. por outro lado, tento contar apenas comigo, mas não consigo evitar ficar na merda por ficar pendurada, por contar com ele e ele faltar porque cede a manipulações, por não conseguir sentir como se ele não existisse, porque existe, não é verdade? mas afinal de contas sou humana, e sinto e falho, e não, não é cansaço. não é apenas cansaço.

sabe, eu tive a noção, quando comecei esta caminhada espiritual, este processo, estas práticas, de que seria como quem se atira de um precipício. depois do salto, não há retorno, não há 'afinal não quero isto, vou voltar a ser o que era antes'. e durante todo este percurso, de cada vez que eu pensava que tinha aprendido, que tinha passado um patamar, que tinha ultrapassado um preconceito, que tinha abraçado um propósito maior, até mesmo quando dava um conselho, imediatamente, tantas vezes no mesmo dia, ou no dia seguinte, eu era posta à prova, aparecia uma situação para me fazer ver, que afinal de contas, eu não tinha integrado nada, que eu tinha as mesmas fragilidades que antes. e agora, enquanto falo consigo, ocorreu-me que seja mais uma prova.

e nesta vida, nesta encarnação, eu sempre tive a noção de que tinha que aprender a aceitação. e tenho aprendido, com a minha família, sobretudo, a aceitar o outro, a respeitá-lo por inteiro. mas, apesar disso, e apesar de ter também aprendido a aceitar-me a mim, tenho falhado em afirmar-me, em fazer com que os outros me aceitem. acabo sempre por me moldar aos outros, ao tempo dos outros, às necessidades dos outros... e não é cansaço, apesar de a senhora me estar a dever 308 dias de férias.





















9 comentários:

  1. Faça greve, Ana, faça greve...

    Agora a sério. Pensei que trabalhasse por conta própria. Fosse assim uma espécie de Olivia empregada e Olivia patroa, na confecção de doces e salgados.

    Tenha uma boa semana. :)



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  2. É cansaço sim senhora...e como ele nos derrota.
    ~CC~

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    1. é bem capaz de ser, mas há quem acredite que numa situação de cansaço extremo a nossa intuição funciona melhor :)

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  3. Creio que nunca conheci ninguém que escrevesse assim, este 'assim', como tu escreves (e a escrita é pensamento, é sentidos, é modo de estar, é um sem número de tudo: tu, sem que jamais te tenhas afirmado/que eu lesse - budista - e não existe somente uma forma de se ser budista, que os caminhos são muitos - és a mais perfeita budista que 'conheço', isto dito entre plicas pela razão de jamais nos termos encontrado pessoalmente, mas és, mais do um namorado que tive e o era/afirmava ser há mais de duas décadas :)

    Tu és admirável na tua honestidade, na tua compaixão, naquilo, tudo aquilo (que não mencionei do que li de ti, não creio que seja necessário para ninguém, naquilo que é o teu sofrimento, provavelmente - ou seguramente? - a única fonte comum de todos os caminhos búdicos)

    Um abraço forte (*) com beijo dentro, Anuska.

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    1. tu comoves-me alex. até porque sei que só sabes ser sincera :)
      mas eu nunca seria budista. teria frio nas orelhas. já viste a Monja Cohen? e a trabalheira para ter aquela cabeça sem pelo?
      eu sou um puzzle mal ajambrado :)
      abraço-te também :*

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    2. Adorei a ideia do puzzle mal ajambrado, que maravilha:)
      ~CC~

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  4. pensei que eram 308 reencarnações...

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