quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

limo







o jardineiro de pessoas faz o percurso todo que o conduz à mulher que lavava o futuro nas margens do rio. a noite está fria e a mulher tenta, com os pés mergulhados no limo gelado e escorregadio, sulcar caminhos que se desfazem com a fluidez das águas ou com o absurdo dos dias, nem sabe, naquele trabalho inglório que veio tomar o lugar da modelação de um futuro ilusório.
agora estou bem
fala o jardineiro
quando tenho a minha mão na tua, volto a encontrar paz, volto aqui, à terra. quando não estou contigo, perco-me em mundos que desconheço
a mulher, onde o olhar se confunde com as águas do rio, não se sabe se de lágrimas, se de marés, conta-lhe da alegria do solo por receber o frio do inverno, do recolhimento e do pousio
tu és um elemento do universo como nunca pensei ser possível
murmura o jardineiro
é por isso que tudo vem ao teu encontro
...
é por isso que me diluo
murmura a mulher














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