sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

aqui










Está silêncio, aqui.
Escrevo-te
Está silêncio, aqui
Não tenho memória de quanto tempo passou desde que deixou de estar silêncio, aqui
Tu sabes, os miúdos (estes homens que serão sempre miúdos) sempre por aqui, ora um, ora outro, ora todos, ora as namoradas, também, e eu sem o meu silêncio, como de pão para a boca. Lembras-te quando te dizia
Preciso de silêncio como de pão para a boca…
E o que se passa é que tudo o que preciso, acaba por me faltar, tu sabes, naquelas ironias lá do criador, como quem diz
Ai precisas? Então dá cá
E eu sem o meu silêncio, assim como eu sem ti, que eu nunca precisei de ti como de pão para a boca, por isso ele lá de cima não precisava de te me tirar. Mas eu também não preciso de pão para a boca, isso é verdade, mas do silêncio, agora que o tenho, é que sinto a falta que me faz. 

Disse-me o homem-terra (e há que tempos que não te falava do homem-terra)
Tu não tens um tambor. Tu és o tambor
E deves imaginar, estas palavras ficaram a ecoar-me na cabeça, nas mãos, no corpo todo, e eu aqui, neste todo silêncio que está cá, a perceber o todo em mim, o eu no todo, tu em mim, o silêncio que me falta, e o tambor que me faz viajar por dentro, dentro do meu peito, pele feita da minha pele.
Está silêncio, aqui. Apenas tu, na ponta dos meus dedos, tamborilando palavras à toa.










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