quarta-feira, 10 de outubro de 2018

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o #metoo dela dormia com ela todas as noites há muitos anos. todos os dias chegava a casa a praguejar por encontrar brinquedos espalhados no chão e exigia silêncio à mesa para ouvir o noticiário. o #metoo dela diminui-a, desvalorizava-a, fazia-a sentir-se dependente, amarrada, encurralada. o #metoo dela ameaçava e manipulava. dizia que era amor, o #metoo dela, que era tudo por amor. o #metoo dela exigia sexo diário, porque não custava nada, porque a uma mulher bastava abrir as pernas para que o homem despejasse as entranhas dele para dentro das entranhas dela. o #metoo dela era silencioso, abrigava-se entre quatro paredes e as telhas de uma casa e de vez em quando marcava os seus dedos nos braços dela para demonstrar que a expulsaria, se tivesse vontade. o #metoo dela era inteligente, apresentava-se bem e era sedutor.
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6 comentários:

  1. Há desses uma vida inteira...e há dos outros também, daqueles que a "mãe preocupada" descreve de forma brilhante, vale a pena ir lá ler.
    ~CC~

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    1. é verdade, CC, já tinha lido. brilhante, mesmo, como de costume tudo o que escreve.
      boa sexta!

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  2. parece que afinal nada muda... só se torna mais vulgar

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