terça-feira, 31 de julho de 2018

amélia








peço a amélia que não parta, que fique pelo menos o tempo de chegar o outono para que eu me cubra das cores com que se anuncia o aconchego e o fogo aceso.
os gestos de amélia são irrequietos, como se estivesse sempre atrasada, como se o que estivesse a fazer já devesse ter sido feito. e devia, eu sei, mas nem assim ela perde a paciência comigo.
amélia veste-me de mim e mostra-me o que eu não vejo da vida. mostra-me o superficial, o prazer, o fútil. mostra-me a cor e a luz, mostra-me o repouso e o lazer. amélia mostra-me a leveza e o merecimento. 'aceita tudo o que de bom que te vier', sussurrava-me ela. amélia é feminina e força, e tem pressa, pressa porque o tempo urge, pressa porque a ampulheta da vida esgota-se.
amélia não sabe o quanto preciso dela, para que me vista de mim, para que eu repouse na pluma que esvoaça nos dias.










2 comentários:

  1. Um texto muito bonito e sereno, apesar de traduzir uma certa tristeza.
    Espero que amélia corresponda ao teu desejo, ana. :)
    Beijo

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    1. espero que si,
      obrigada, deep. uma boa noite para ti. deve estar calor por aí...
      beijo

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