terça-feira, 1 de maio de 2018

a mulher









nunca falei sobre ela. não sei o seu nome nem a sua profissão.
conheço a mulher de vista há cerca de vinte anos. as nossas rotinas cruzam-se frequentemente, e, devido a isso, cumprimentamo-nos sempre com um bom dia ou uma boa tarde. dela, sei o que vejo - um sorriso, um braço defeituoso, uma aparência cuidada, e habituada a fazer as compras e a carregar os sacos apenas com o braço saudável.
depois de algum tempo sem a ver, acabo por a encontrar no supermercado, como de costume, mas com o rosto inchado e a pele com um tom avermelhado. o sorriso era o mesmo e o desembaraço com as compras, igual. em conversa de mim para mim, achei provável que se tratasse de uma alergia. o bom dia foi igual, a expressão do rosto a mesma de sempre.
ontem, encontrei-a na caixa do mesmo supermercado. o rosto ainda mais volumoso, o braço doente igualmente dilatado e a pele que estava visível, de cor vermelho escuro. a agravar, um dos olhos apresentava uma cor leitosa. já o sorriso, era o mesmo, assim como o desejo de um bom dia.
eu acho que o sorriso dela, é pela alegria de cada dia. enquanto a seguia com o olhar, à medida que se afastava, fiquei a pensar que há sorrisos que pousam em nós como bênçãos, como quem indica um caminho, como algo maior do que a vida.







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