quinta-feira, 5 de abril de 2018

dona maria josé











todas as manhãs bem cedo, quando regresso a casa, cruzo-me com a dona maria josé. ela desce a rua que ladeia o rio, e quando a vejo sei que ainda tem muito que andar até chegar ao trabalho. a dona maria josé deve ter uns sessenta e tal anos, estatura baixa, cabelo curto e prateado e rosto lavado de maquilhagem. onde costumo encontrá-la, sem ser ali, a descer a rua, vejo-a apenas da cintura para cima, sentada num balcão de atendimento, toda ela cuidado para comigo, toda ela atenção, sem esquecer um 'e a mãe, está bem?'.
quando quero chamá-la pelo nome, sai-me sempre um 'dona maria do céu' ou 'dona maria dos anjos'. custa-me sempre lembrar que o outro nome de maria, é josé, talvez pela serenidade, talvez pelo apaziguamento que ela inspira.
hoje de manhã, lá ia a dona maria josé, com a saia pelo joelho, sapato com um bocadinho de tacão, mala a condizer na mão, e toda ela vestida em tom de cor-de-rosa velho, este que se usa esta estação. e a dona maria josé é bonita, não sendo. onde ela passa, acredito que quem a vê sinta vontade de sorrir. é que a beleza da dona maria josé vem da maneira como ela gosta da vida e da forma como cuida de si, do sorriso que leva no rosto todas as manhãs frias ou chuvosas, pela calçada à beira-rio.
enquanto penso estas coisas, olho para o modo como me apresento, sapatilhas de estimação, calças e camisola alguns tamanhos acima do meu e o cabelo nem sei como...










2 comentários: