domingo, 21 de janeiro de 2018

a mulher que não vi no supermercado








esquecer deve ser assim como quem morre, assim como quem apaga a vida que se viveu, o vazio. 
acho que era por isso que eu queria que ele ficasse, para que aqueles anos não se apagassem, para que aquele tempo não tivesse sido em vão, uns milhares de dia em branco. é o mesmo medo, parece-me, esquecer e morrer.
então ele foi ficando, não estando [é um cavalheiro, é verdade], e aos poucos foi-se-me tornando invisível, desvanecendo. e foi ontem, quando não vi aquela mulher no supermercado, aquela mulher que esteve comigo tantos anos e que um dia deixou de aparecer, foi ontem que quando não vi aquela mulher que estava ali, que percebi que querer que ele fique, é não querer que ele morra, em mim, é reconhecê-lo, ainda. mas morre-se-me, lentamente, e já pouco percorro a marginal para trazer nos olhos o mar para lho fazer chegar quando olhar para ele, e já nem penso no vento que trago nos cabelos, para ele, e o perfume de que visto a pele já não pensa nele. dos milhares de dias, restam-me meia dúzia de poemas e uma mão cheia de música, que eu já não procuro. é assim como a vida apagar-se, morrer-se, em vão, o vazio para trás dos dias. 












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