terça-feira, 5 de dezembro de 2017

ciclo lunar










a mulher já não guarda as margens do rio. a lua mingou, e, se forem ver, talvez confirmem que tem pelo uns dez por cento a menos do que ontem. poderão até dizer que de facto a lua tem sempre o mesmo tamanho, mas não adianta, a mulher que guarda as margens do rio só percebe do que vê.
então, talvez seja por ao quarto dia a lua ter deixado de estar cheia, que o mundo desaba. talvez escoe pelo mesmo buraco por onde desaparece a luz da lua, não sei. sei que maldisse as bolachas. coitadas das bolachas sem culpa nenhuma, e acabei pedindo desculpa por isso a um tabuleiro de doze inocentes bolachas de amêndoa, por tantos impropérios. as dores das bolachas, como toda a gente sabe, acabam por se reflectir no corpo, e dói tudo, dói o que não é suposto doer. os vulcões de chocolate, esses calharam bem, e as empadas também. só não sobrou tempo para preparar as massas para amanhã. mas como a fechadura da porta da rua avariou, pode ser que nem consiga sair de casa. as pessoas da casa parece que fizeram um pacto de mau humor, e isto, ao fim de um dia de trabalho dá vontade de entrar no carro e sair sem destino, só para sentir a estrada a correr debaixo dos pneus. cocozices, é o que é, como a carta do hospital que nunca mais chega com a consulta marcada. mas eu acho que as desimportâncias escoam-se da mesma forma que vai desaparecendo a lua, para depois, quando pensamos que ela já nem está la, voltar a aparecer, assim, sem parar.












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