sábado, 12 de agosto de 2017

cabelos









o homem tinha sido violento com as palavras, sem o saber. a frágil auto-estima da mulher de meia-idade, cedia sem que ele o visse. - os teus cabelos são feios. pareces uma velha. pinta isso. olha para ti, cabelos brancos, castanhos, loiros. isso não tem jeito nenhum, que feio. arranja-te. - dizia ele em frente de todos, sem perceber quão funda era a ferida que lhe fazia. 
eu sempre a conheci assim, na sua juventude, agora na idade madura, e fico a pensar nos estereótipos, nos padrões da sociedade, na beleza comercializada, na capacidade financeira para enganar a idade.
do outro lado da sala, uma mulher frágil diz num tom de voz fraquinho, que até gosta do cabelo da outra. a outra responde ao homem um 'quero lá saber do que tu gostas', mas os olhos tristes atraiçoam a prontidão da resposta. 











4 comentários:

  1. prefiro que me atirem pedras que palavras mal medidas...

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  2. Respostas
    1. a palavra devia ser tratada como algo sagrado, que é, capaz de mudar vidas, destinos.
      boa noite, Gabi

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