quinta-feira, 17 de agosto de 2017

a rosa









a rosa confidencia-me com um sorriso nos lábios que agora tem tudo para ser feliz. reencontrou o namorado de quem esteve separada durante 26 anos, e, finalmente, ele foi aceite pelos pais e pelas filhas de rosa. 'parece-me um sonho', diz-me ela encostada à minha mesa, com o avental todo enfarinhado. eu apenas recomendo-lhe que aproveite os momentos, que não projecte o futuro com muita ansiedade, que saboreie. mas os olhos de rosa estão irrequietos, como se não soubesse como disfarçar tanta felicidade. 'eu ainda não conto a ninguém. tenho medo...'. e eu concordo com a rosa. que não conte. a inveja dos outros pode causar danos que nem sonhamos. a rosa trabalha num café e faz limpezas nos dias de folga. ele, está emigrado sem país certo, trabalhando nos locais para onde o mandam. a rosa tem tudo para ser feliz, mas anda com as costas curvadas como se quisesse proteger o coração tão cheio de amor e esperança, que traz resguardado dentro do peito. toda eu sorrio para a rosa enquanto ela acaricia os seus braços, cobertos de cicatrizes de queimaduras de um descuido na cozinha. 'ele já sabia que eu me tinha queimado', segreda, toda ela sorriso, toda ela felicidade.












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