terça-feira, 6 de junho de 2017

pode ser amor












ainda me tentei a não atender à porta. estava a trabalhar, e sobem-me os pirolitos quando não respeitam o meu modo de sobrevivência. mas abri.

enquanto tento mergulhar o pensamento num texto sobre a crise no burundi, a gorda amiga ao meu lado fala-me das dificuldades posturais na intimidade com o seu gordissimo marido, que tem sérios problemas nos joelhos, assim como ela, nas articulações. e não, não é falta de imaginação. aliás, a imaginação, aqui, até é um problema a mais.

enquanto penso no que leio, ouço-a, e rio-me a bom rir com os gestos que faz ao tentar exemplificar a problemática da situação. problemática, mesmo, pois agravada por outros problemas de saúde além dos acima descritos.
- sabes o que é? - pergunta-me - é a velhice. envelhecer não devia ser assim, não nisto.

apesar da impaciência por estar a ficar com o trabalho todo atrasado, eu olho-a com ternura, sei o percurso dela, os altos e baixos do seu casamento, de ela abdicar dela mesma, do seu prazer, do ritmo do seu corpo, para que o marido tenha uma vida boa.

não lhe invejo a sorte, não queria nada que se parecesse com aquela vida para mim, mas acredito que seja a forma dela dedicar amor, a dela.













6 comentários:

  1. Pois é Ana, às vezes é tão difícil compreender as formas que o amor pode assumir para os outros...mas para mim tudo tem um limite e subjugação é um deles (mas não sei se é o caso...).
    ~CC~

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    1. eu acho que frequentemente é o medo de ficar só, da solidão. não é melhor nem pior do que outra razão qualquer, quem somos nós para julgar.
      beijo, CC :)

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  2. ...estranha forma de amar, ou seremos nós estranhos ao amor?!Acho que por mais voltas se dê para obter uma resposta acabámos sempre com outra pergunta.

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    1. é verdade, Goti, mas eu acho que somos estranhos ao Amor, a maior parte das vezes.
      obrigada :)

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  3. o amor tem tantas formas que nunca me canso de as descobrir.
    beijinho Ana

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