quarta-feira, 12 de abril de 2017

dizia-me ele que era uma história verdadeira, e eu acreditava, e ainda hoje acredito








o Pires era um professor universitário. empenhava-se muito na sua profissão e andava sempre muito cansado. ora, convém referir que o Pires tinha barba, que por preguiça sua, cobria-lhe o rosto.
um dia, o Pires saiu da faculdade, sentou-se num banco de jardim e adormeceu. os seus alunos, ao verem o professor adormecido, resolveram pregar-lhe uma partida. então pegaram numa tesoura e cortaram-lhe a barba.
quando o Pires acordou, viu o seu rosto reflectido no vidro de uma montra, e, não se reconhecendo, disse:
- Pires era, Pires sou, tinha barbas, quem mas cortou?
cofiando (o meu pai não utilizava este termo, mas aprendi-o eu recentemente) a pele onde na véspera tinha pêlos, lembrou-se:
- vou à casa do Pires, se não estiver lá o Pires, então Pires eu sou, se lá estiver o Pires, então quem diabo eu sou?

e pronto. ficava eu com os olhos arregalados perguntando como acabava a história, e pedia ao meu pai que a repetisse todas as noites até eu adormecer.











10 comentários:

  1. Eu teria vontade de fazer o mesmo, não gosto nada de barbas :)

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  2. o Pires era prof. de filosofia... só pode. :)
    tem uma boa noite, ana.

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  3. Maria, já me tenho sentido tentada com a barba dos meus filhos...:)

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  4. só podia, Teresa :)
    esta história fascinava-me. colocava-me na pele do Pires e ficava aflita por pensar que um dia podia acordar e não me reconhecer...e agora são tantas as vezes em que não me reconheço :)

    beijo, Teresa (é o dia mundial dele)

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  5. Respostas
    1. O meu pai ria-se e dizia que o Pires não estava lá, mas eu ficava com medo de adormecer e ao acordar não saber quem eu era, e se deixasse de ser quem era como é que podia ter o meu pai outra vez...

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    2. será por isso que deixamos de saber quem somos?

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  6. Respostas
    1. ainda hoje eu conto esta história, como antes o meu pai me fazia.
      bom fim de semana, AvoGi

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