segunda-feira, 27 de março de 2017

vou ter que arranjar uma etiqueta






















perdi-o. perdi-o dentro de mim. durante dois dias andei sem ele e o corpo nauseou, as noites foram um lugar escuro onde me perdi acordada, o mar não me coube nos olhos, as mãos ficaram cheias de um nada maior do que o nada com que as enchia antes de o perder. nunca o tive mas perdi a maneira de não o ter. mas a saudade é como um adesivo largo sobre uma ferida em carne viva numa qualquer zona pilosa do corpo, acho que já to disse. se a deixar ficar apodrece-me, se a arrancar, dói e leva pedaços de mim com ela. e foi o que aconteceu. bastaram dois dias, arranquei o que tinha dele em mim. primeiro as imagens, depois deixei de ouvir as músicas, até a endemoinhada me causava arrepios, arrumei os livros, os recortes, a pontuação, deitei fora todos os pontos e virgulas dele, as palavras, aquelas que eu sem me aperceber já dizia e que não eram minhas antes dele, pintei os azuis de prateado e entornei o perfume todo pelo lavatório.
dois dias bastaram e lentamente despi a tristeza e a saudade. aí, fiquei solta, leve e liberta. foi então que de novo o encontrei e continuei a tê-lo não o tendo.









10 comentários:

  1. pudéssemos nós deixar o coração num lugar qualquer só para o corpo não doer...

    deixo-te um beijo no coração, ana bonita. :)

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  2. Talvez de uma outra forma agora. Mais longe, mais leve :)

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  3. tão bonito. tão triste. tão real.

    ;)

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  4. obrigada, ella, por veres beleza :)

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  5. obrigada, anónimo, por achar real.
    (e bonito, obrigada)

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  6. dois dias intensos, Hury.
    quando dói, dói.

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