sábado, 11 de março de 2017

ências











Primeiro aceitou que o sentia. Antecipava o que ele dizia, adivinhava-lhe a alma, sentia-lhe o toque, trazia-o por dentro, num dentro que não era o do corpo. Todo aquele não ser ocupava-lhe o ser e não a deixava ser para além dele. Depois o tempo passou e a pele num lamento que não era dela e a alma a mostrar-lhe que o fio definhava. A presença dele passou a senti-la no frio do corpo, na frescura dos lençóis, nas páginas em branco, no espaço vazio. Ele estava em tudo o que não estava.
Depois ele presenciou-se noutras carências e ausentou-se noutras presenças, e lentamente perderam a transparência.
Dele, ela tem o silêncio e a invisibilidade.
Dela, ele tem o movimento do vento.













10 comentários:

  1. O movimento incansável do vento encerra o silêncio e a invisibilidade. E, às vezes, a lembrança de uma antiga dor, cujo rasto o vento não consegue apagar.

    Um beijinho, ana :)

    ResponderEliminar
  2. continuam um no outro, dizes tu :)
    bom dia, menina sorriso :)

    ResponderEliminar
  3. Às vezes leio-te e depois volto a reler maravilhado, simplesmente maravilhado :)

    ResponderEliminar
  4. estragas-me com mimos, HuryHury :)

    ResponderEliminar
  5. Laura, fico vaidosa e depois não há quem me ature...
    bom sábado :)

    ResponderEliminar
  6. Acontece-me, na maior parte das vezes, ler o que escreves e as tuas palavras falarem-me tanto que me calam - num daqueles paradoxos em que os silêncios encerram tantas palavras a gritar sussurros que não se ouvem, e o vento nos afaga mas não passa.
    Tão bonito, ana :)

    ResponderEliminar
  7. de cada vez que as mulheres se reúnem e partilham o seu íntimo, concluem que são todas iguais :)
    obrigada, Olvido, muito.

    ResponderEliminar
  8. Penadas que descrevem uma brisa... partilhada... efémera... e para mim, dolorosamente bela... pungente!
    Obrigado!!

    ResponderEliminar
  9. eu é que agradeço, Eros, obrigada.

    ResponderEliminar