sábado, 11 de março de 2017

correio da manhã










o homem, que sobe a rua descansado, quando me vê acelera o passo. eu, que desço a rua sem pressa, quando o vejo, acelero o passo. com uns segundos de diferença, entro primeiro no café, dirijo-me ao cesto junto à porta e pego no correio da manhã. ele, senta-se e olha de lado. o jornal é para a minha mãe, que, mais torcida do que eu, lê-o lentamente, provocadoramente. ele, que habitualmente chega ao jornal antes de mim e demora-se nele uma eternidade fazendo palavras cruzadas, sudoku e sei lá o que mais, olha-nos de lado. a minha mãe, depois de ler e reler, dobra o jornal e cruza os braços em cima das folhas. o homem ergue o sobrolho e levanta-se para inspeccionar o cesto, que já sabe vazio, regressando de mãos a abanar para a mesa. então, passado um bom e longo bocado, olho para ele e estendo-lhe o jornal com um sorriso na cara, para que não se esqueça. sou mázinha, eu sei.











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