sexta-feira, 3 de março de 2017

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o homem chegou com a encomenda com duas horas de antecedência. pousou os sacos onde indiquei e começou a desfazer, com estardalhaço, as grades onde transportava os sacos. contente por eu estar em casa, dizia que teria que esperar dentro do carro pelas dez horas, se eu não lhe tivesse aberto a porta. assim, só lhe faltava conduzir oitenta quilómetros, entregar o aparelho de multibanco no escritório, e voltar para casa. todos os dias fazia aquele percurso de manhã, de tarde e de noite.
- mas gosto, disse ele, só tenho pena de trabalhar cerca de quatorze horas seguidas. está a ver, são oito e meia, saí de casa às oito da manhã, ainda tenho que fazer o percurso todo para trás, e hoje, ainda é cedo, porque me abriu a porta, senão, mais duas horas...
o homem falava com a boca em contínuo sorriso, e eu estava presa naquele vaivém de grades e sacos e embalagens de água e palavras sem parar
- agora, vou chegar a casa e tenho a minha mulher à minha espera com o jantar pronto para jantar comigo
e dizendo isto, para além do sorriso, o homem tinha um brilho no rosto todo

[foi aqui que percebi a procura do Manel]
















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