guardava numa caixa de cartão todas as partes mortais dele. as mãos, os pés felizes, a voz, aquela maneira de ele dizer 'olá', que o tornava tão possível, o cabelo, os olhos por detrás dos óculos, a letra escrita a azul numa folha qualquer, a perna cruzada.
houve um tempo, em que quando a saudade fazia contrair o coração dentro do peito, abria a caixa, cada vez mais gasta pelo tempo que rodopiava por ela, e entrava até onde o olhar alcançava, naqueles pedacinhos concedidos de papel colorido, e aquele revisitar fazia-a assentar os pés no chão, na realidade.
um dia, sem saber como, desapareceu, talvez desfeita pelo tempo que tanto passou pela caixa, ou pelos dedos tanto tentarem sentir a pele viva nos retalhos ali guardados.
perdeu-a. a caixa não deixou rasto, nem uma melena de cabelo caída num recanto qualquer para lhe lembrar da humanidade dele.
agora, em vez das partes mortais, as visíveis, ela tem todas as invisíveis. tem o arrepio, o aroma, a tristeza, o azul, o mar, os dias de sol, a alegria, as palavras, tantas palavras, as melodias, o toque, as aves, os paladares. tem o desespero de o sentir em todo o lado e plana como as gaivotas, numa vida que não é a dela.
Tão, mas tão bonito...
ResponderEliminarUm dia feliz, querida ana :)
obrigada, Miss. bom carnaval :)
ResponderEliminarEu vinha aqui dizer o que a Miss Smile já disse. :-) mas repito, pronto: tão, mas tão bonito, ana.
ResponderEliminarÉs tão querida, querida Susana:)
EliminarQue palavras tão bonitas ana, memórias que doem e ao mesmo tempo alegram :)
ResponderEliminarobrigada, Maria. memórias feitas do nada :)
ResponderEliminarnunca mais vou olhar o planar com os mesmos olhos... gostei, pra lá de tanto :)
ResponderEliminarNão fixes o olhar nelas...é contagioso...
ResponderEliminarmentira... contagiosas são as tuas palavras :) elas animam mesmo quando a caixa é dada como desaparecida
ResponderEliminarsão tantas as gaivotas, neste momento, a planar em frente a mim. mesmo.
ResponderEliminarobrigada, Hury...vamos às conchas :)
Caixas que se desvanecem no ar do tempo...
ResponderEliminartodos temos uma caixa assim na vida...e o que mais custa é saber que essas memórias, que um dia foram sentidas à pele, desaparecem no ar...como se fossem coisas sem valor!´´´
bom dia
quando te leio assim perco-me no tempo e fico parada, de bonito.
ResponderEliminarse é sentido, é vida e vale a pena, Criança :)
ResponderEliminarobrigada, Laura. que bom fazer-te parar :)
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