terça-feira, 10 de janeiro de 2017

o telefonema








ele
- gostei de te ver no sábado, senti-te mais forte, mais segura
eu
- mais segura, eu?
se foi dia mau, foi no sábado, mas não lhe disse
ele
- sim, sinto-te fortalecida nesse caminho que escolheste fazer...
eu
- tenho mais retrocessos do que avanços
ele
- mas vejo-te segura, saíste daquele estado de fragilidade em que estavas quando estivemos mais próximos
eu, finalmente percebendo que ele queria ser ouvido e não conversar
- ah, ainda bem que me vês assim
ele
- e queria começar o ano dizendo-te que podemos manter esta relação de amizade, em vez daquela lama em que estivemos
eu, lama? olha que...se  calhar bem visto...
- lama? nunca nos vi numa relação assim
ele
- mas queria que neste ano fossemos como uma
eu
- página em branco
ele
- sim, sempre me fizeste bem, e és uma fortaleza, eu gostava de poder continuar a conversar contigo
eu, fortaleza...eu...eu que só planeio três passos de cada vez, que me faço à estrada a rezar ao anjo da guarda ininterruptamente, que acendo velas a todos os santos, entidades e afins
- é bom ouvir isso. quando estiver menos bem, telefono-te para que mo lembres
ele
- olha, fica bem, tem uma noite tranquila e que o teu dia de amanhã seja muito bom
eu, sabe lá ele a bagunça que me espera...ainda ensaiei uma tentativa de verbalização, mas ele telefonou, espera aí, acabei por telefonar eu, para ele falar.
- tu também. fica bem.
e ele abriu o caderno de 2017 na página em branco. as simple as that.












6 comentários:

  1. Respostas
    1. Lembraste-me agora que ele costumava ligar para me dizer o que eu precisava de ouvir, sem que ele soubesse.

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  2. Também é preciso saber (e querer) aceitar uma página em branco.

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  3. uma página em branco são todas as possibilidades em aberto :)
    boa tarde de sol, Luisa :)

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