a bimby

sempre por esta altura do ano, aparece a dona margarida, mais dia, menos dia. quando a sinto, penso 'lá vem a bimby', pois desde que lhe tentaram impingir o electrodoméstico, alegando que não custava nada a pagar, pois equivalia a um euro por dia, a dona margarida apanhou boleia da ideia, e começou a juntar alguns euros por dia. assim, no final do ano tinha um subsídio de bimby, já que o natal já tinha passado. e aquilo era algum desafogo para ela.

este ano, como de costume, faz-me sinal com a mão para que me aproxime, e diz-me baixinho 'este ano foi mais difícil, só consegui mil euros, mas já deixei duzentos e tal no fundo do balde...mas é melhor do que nada. olhe, vou tapar buracos outra vez, e talvez comprar umas sapatilhas em saldo', eu sorrio e aperto a mão dela nas minhas, 'que bom, dona margarida, que bom. não conte a ninguém sobre a sua bimby...'

e ela lá vai, vergada pelo trabalho da vida, o corpo que já desistiu de amores, e com o segredo no sorriso. na mão, leva o saco do lidl, pesado com as moedas, até à dependência do banco, onde, como eu, já esperam que ela entre por esta altura do ano.