terça-feira, 4 de outubro de 2016

pois era domingo quando escrevi

















inspirei a vida toda no ar fresco e límpido desta manhã de domingo.

tenho-te cada vez mais distante. tu de mim e eu a perder-me nesta distância de ti. olho para o teu rosto e tento recordar como era antes do agora. então tenho que ir buscar a caixa onde guardo retalhos de ti. fotografias, poemas, desenhos, aromas, flores, cores, escritos, pedaços de ementas, postais de viagem, areia do deserto, frasquinhos com água de mar e de rio e de chuva, devidamente etiquetados, dentro de envelopes pequeninos, madeixas do teu cabelo grisalho, pêlos das pernas e dos braços, uma camisola quente, um par de sandálias de verão, o correio da manhã com uma gargalhada, os teus óculos velhos, um contador de sardas, recortes de folhas de livros com textos que querias que eu cheirasse e tocasse antes de ler, pacotes de açucar do café nicola a dizerem 'hoje é o dia' para inúmeros desafios, um pequeno quadro com o céu azul para que não me falte, uma ampulheta para eu poder manobrar o tempo, um mapa com as estradas trocadas, um globo onde o norte e os sul unem-se no mesmo lugar. 
sou capaz de passar dias a fio a sentir, uma por uma, todas as lembranças de ti. a cada uma, obrigo-me a regressar àquele momento, antes da distância, e penso o que pensei, recordo o que senti. 

esqueço por instantes o depois de nem sei quando.














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