terça-feira, 30 de agosto de 2016

o zé























hoje este meu filho faz 21 anos. é virgem como eu, tem um rosto parecido com o meu, sente de forma parecida com o meu sentir, é mais verdadeiro do que eu e tem sonhos de uma forma que eu nunca tive.

chama-se zé, como o meu pai, e, para distingui-los, o irmão mais velho resolveu chamar ao avô, zé grande. e assim ficou até hoje, nunca lhe chamaram avô. era o zé grande, e ainda é, dentro do coração. era o zé pequenino, e já o zé grande se atrasava no passo. então o zé deixava todos seguirem em frente, e ficava à espera que o zé grande o alcançasse e dava-lhe a mão. enquanto escrevo isto, vejo novamente o sorriso de ternura do meu pai a agarrar aquela mão minúscula que queria acompanha-lo no caminho. e acompanhava.

todos os finais de período, enquanto andou na escola primária, a professora escrevia nas observações da ficha dele, 'demonstra um grande sentido de solidariedade', e, para mim, aquilo era como se estivesse no quadro de excelência, apesar das notas apenas suficientes para passar de ano, pois nunca encontrou interesse em estudar o que não lhe tocava o coração.

dos momentos mais bonitos que tenho guardados nesta minha memória fraquinha, é a imagem do zé, pequenino, a caminhar por um campo com erva mais alta do que ele. nas mãozinhas traz um ramo de flores campestres, e repete para ele mesmo 'ela vai gostar de mim', enquanto procura por mim, que o observo da janela do meu quarto.

o zé tem sonhos. tem sonhos maiores, tão altos como aquela erva toda por onde ele conseguia passar para me trazer as flores. e conseguia. e trazia. e conseguirá.