segunda-feira, 20 de junho de 2016

nortadas



























percorro a marginal e o mar está azul marinho cheio de carneirinhos. o vento é frio e as bandeiras das praias mostram bem que vem do norte. é a nortada e isto é terra delas [espera aí que eu vou dar de comer aos pardais].
eu, abro as janelas do carro e já se sabe como é. entra o vento gelado por todo o lado, dá a volta nos assentos de trás, levanta os papeis que encontra pelo caminho e depois entretém-se com o meu cabelo e com o meu pescoço. não ofereço resistência. rendo-me, aliás, que eu e o vento temos um caso amoroso. ele passeia-se à vontade por mim, e traz-me o cheiro da maresia. sozinha no carro, eu rio, como se me fizessem cócegas.

as pessoas normais não gostam de nortadas. vão para a praia para deitarem-se ao sol, ficarem morenas, tomarem banhos de mar, e elas não permitem nada disso. 
eu gosto de vestir uma camisola quente e macia, ficar a sentir o vento e a areia, e calcar a espuma da rebentação e pedir a Iemanjá que me limpe de tudo o que não é bom para mim. depois, se eu fosse pequenina outra vez, a minha mãe preparava-me um pão com manteiga e batatas fritas dentro, daquelas que se vendiam na praia em pacotes brancos de papel, antes da asae aparecer, e eu com os lábios roxos de frio, quentinha até onde a roupa me cobrisse, não ia pensar que pudesse haver nada melhor na vida.

para o Manuel, que tem saudades do vento norte.















2 comentários:

  1. senti o vento nas tuas palavras, senti-o como ele era, tal e qual como eu gosto, o sabor, as picadas da areia na pele, eriçando os pêlos do corpo, arrastando guarda-sois, chapéus, a espuma em remoinhos (aqui nã há disso, tudo fica estático)... mas as batatas, oh deus, que saudades dessas batatas que a asae proibiu :)

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  2. essa parte das picadas da areia na pela é que eu já não gosto tanto....
    (tu estático, não...isso não, nem o céu em azul, nem o mar...quero tudo em movimento...)

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