quinta-feira, 7 de abril de 2016

nocturno














aqui, em frente à porta de vidro da varanda, entra, pela noite dentro, a imagem reflectida da sala e vai pousar nos telhados das casas do outro lado da rua. são muito frequentes os momentos em que me espanto com a vida que tenho. toda, do principio ao fim. mas isso já aqui escrevi, que sou espantada por natureza.

é contra a minha natureza a vida que tenho, mas tenho. eu sou uma mulher do campo, tu sabes.

esta tarde dizem-me que o julgamento ficou marcado para dia 28, o pedido de pensões de alimentos entrou a 01 de outubro. conto pelos dedos, oito meses, nove, se a sentença for proferida em maio. um processo que se desenrola há 11 anos, três filhos, um pai, uma mãe espantada. como é que onze anos não servem, por si só, de prova.

entretanto, voltarei para os meus textos sobre armamento nuclear e grupos terroristas, voltarei para as encomendas de culinária e consultas esotéricas. continuarei a acumular saturação, em cima de saturação, e o meu espanto fica-se pelos pardais e pelas cores do céu, em vez de me admirar com aquela mulher que perdeu a cabeça e que foi primeira página do correio da manhã.