quarta-feira, 27 de abril de 2016

livre














fico a ver o rapaz a atravessar a rua para apanhar o metro. tem 20 anos. leva às costas a mochila e na mão a pasta de desenho. enquanto caminha come um pão porque nunca tem tempo de tomar o pequeno almoço em casa, pois está sempre atrasado. atrasado, na minha opinião, porque ele não quer saber das horas para nada, ou antes, o mínimo indispensável. chega tarde e sai quando não lhe apetece estar mais a ouvir aquelas cadeiras teóricas, que são só duas, felizmente. com as outras, ele até faz horas extraordinárias, em casa.

mas eu fico a olhar para ele. é tão lindo, mas tão lindo, e carrega sonhos dentro dele, e certezas de que os vai cumprir. traz também com ele a verdade, não sei se por preguiça, mas traz. já desejei eu tantas vezes que me mentisse, isso, por preguiça minha, mas ele diz aquelas coisas com toda a calma e permissão de falhar e de ser menos bom porque teve coisas para fazer que lhe deram mais prazer, do que trabalhar para ter notas excelentes, que eu fico com esta incapacidade, que sempre tive, de educar, de o moldar de forma a que seja mais dentro do que deve ser uma pessoa respeitável na sociedade, e em vez disso deixo que ele seja assim como é, lindo de morrer e com o peito cheio de sonhos, e livre, livre.













7 comentários: