segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

mascaradas














      sento-me neste novo lugar que arranjei para trabalhar, em frente ao céu e aos pardais que imundam a minha varanda com a aveia que lhes deito todas as manhãs.

a casa está morna, ainda, do tempo sem jeito que neste inverno não traz frio, e da lareira, que mesmo assim, acendo, para me aconchegar. 

alimentar pardais podia ser justificação de vida... mas não é. criar filhos podia ser justificação de vida, mas não o é, também. cuidar dos pais devia ser justificação de vida, mas nem isso é. ajudar o próximo poderia ser uma boa razão para viver, mas não é, eu sei. tudo junto, daria uma boa causa pela qual viver, mas não basta. eu sei.

agarro-me a tudo o que é exterior para não trabalhar o interior, eu sei. fizeste bem questão de mo recordar, como quem, com paciência, esburaca a terra com os dedos, para arrancar uma raiz de trevo, profunda. 'são as sensações subtis, se não trabalharmos com exactidão somos absorvidos por elas', escreves-me, sem que eu te entendesse. 

é tão mais fácil e confortável ajudar os outros, do que aventurarmo-nos a quebrar as barreiras com que nos protegemos dos medos de falhar mais uma vez, nas relações, no trabalho, com nós próprios.

é tão mais fácil o desapego dos outros, do exterior, e vens tu falar-me do apego a mim mesma... da responsabilidade pelo conhecimento que nos é dado aprender.

deixa-me com a minha lareira e com os pardais na varanda e com a preguiça em não ver...
















16 comentários:

  1. De repente, fiquei triste (ou mais triste).

    Esta chuva nunca mais vai embora... só faz estragos. A rotina é outra que só atrapalha. Enfim...

    Boa semana, ana. Beijo

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  2. deepLuísa, desculpa… a intenção é despertar, não entristecer… e
    olha
    (a nossa primeira obrigação, é para connosco, e depois, de nós, para os outros. Percebes?)

    boa semana, e abraço fortinho :)

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  3. Manuel, vem daí. vamos dançar o zorba :) e cairão raios e troviscos...

    (cuida-te, bom tempo. a nossa obrigação é fazermo-nos felizes, sem máscaras... agora que é carnaval, dou-te uma balda...)

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  4. Ana:

    O meu pai gostava imenso deste filme, já foi bom o recordar :)

    Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não se consegue, pelo menos eu não, mudar tudo de uma só vez. Aos poucos. Uns dias mais resguardada outros mais afoita. Dois passos para a frente aguardando não se ter que dar um para trás :)

    Beijoquinha cheia de alcatrão e penas!!!


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  5. pois é isso mesmo, vizinha... e além disso, sabes bem que roma e pavia...

    beijoquinha cheia de alcatrão desse??? cruzes credo, vizinha...deus me livre e guarde que eu preciso estar sossegadinha da vida... :)

    beijinho, aproveita a chuva para refrescar (ahahahah)

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  6. Ana:

    Quer dizer que te ofereço um beijo e tu não queres!!! Vais ter muitas amigas assim! Já fui apanhar chuva e tomar banho, já estou limpinha de alcatrão :))

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  7. peçonha dessa? vade retro satanás!!! que conheço bem essa peçonha... isso não sai com um banho de chuva... não sai mesmo, não... pode até aguentar-se um vida inteira... ou mais...

    (ahahaha)

    dou-te um beijo, vizinha, puro e imaculado, com cheiro a rosas frescas :)

    (ahahaha)

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  8. ana, a minha intenção não era deixar-te com sentimento de culpa. Agora é a minha vez de pedir desculpa.

    Obrigada, ana, pelo abraço e pela música, que já ouvi, publiquei e repeti.

    Felizmente, a tristeza passou como nuvem.

    Beijo

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  9. que bom, deepLuísa :)

    não esqueças de que a tristeza passou, e passará da próxima também :)

    (eu também não esquecerei...somos todos espelhos, tu sabes :) )

    beijo e bom carnaval...que seja uma folga :)

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  10. Cuidar dos outros para nos esquecermos de nós? Para não termos tempo para nós?

    Nunca tinha visto isso nessa perspetiva, Ana.

    Beijinhos, tem um bom dia. :)

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  11. não quero de forma alguma generalizar, mas sim, Ava. há muitas formas de nos boicotarmos a nós mesmo, de nos mascararmos :)

    às vezes é preciso muita coragem para arriscar a ser feliz :)

    bom entrudo!!!
    beijinhos

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  12. Querida Ana, é verdade que cuidar dos outros pode servir para fugir de nós mesmos. Acho que todos enfrentamos o desafio que é encontrar um equilíbrio, porque todos somos importantes. Como disseste, somos espelhos uns dos outros e, por isso, temos também de cuidar muito de nós. Por nós e pelos outros.
    Gostei muito do teu texto. Estás a escrever cada vez melhor, miúda :)

    Um beijinho

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  13. é isso mesmo Miss. obrigada!
    (gostei do 'miúda'... :) )

    beijinho e boa dieta de vieiras...

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  14. foi bom recordar o filme.
    há preguiças boas, sim. os pássaros também me fazem bem.
    e a chuva obriga-me a mergulhar ainda mais em mim.
    beijinho Ana

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  15. é verdade, a chuva ajuda no recolher.
    beijinho Laura :)

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