domingo, 28 de fevereiro de 2016

inseguranças de pele






















é domingo de manhã e a dona fernanda invade-me a casa, desta vez com uma latinha de bolachas, talvez a modos de quem pede desculpa, de quem receia estar a abusar... e estaria, mas é domingo... 

então ela chega com aquelas urgências lá dela, aqueles inconfessáveis de corpo que ela não conta a mais ninguém, diz ela, só a mim, e eu a fazer de conta que sim, que acredito, pois eu sou, justifica ela, a pessoa mais metida consigo mesma que ela conhece, e não sairei por aí a comentar as intimidades dela, com este e com aquele.


e as inquietações dela, desta vez, e no seguimento das anteriores, são inseguranças de corpo - é que sabe, a idade... as varizes fininha por todo o lado, a celulite...as formas... - diz-me ela baixinho - e se um dia destes ele... e se ele não gosta de mim? do meu corpo? - eu, muda, que resposta para isto não tenho embora lhe pudesse dizer tanta coisa, como aquilo de o mais importante ser invisivel aos olhos, como o interior é que interessa, como mas se ele gosta de si... então oriento a conversa para as bolachas e que os rapazes estão quase a acordar...

com uma mão a acariciar-lhe as costas, enquanto ela vai à vida dela, que hoje é domingo e dia de procissão, vou-lhe dizendo por entre sorrisos com tons de malícia - mas faça-se a ele, dona fernanda, mostre-se-lhe, pelo menos fica a saber...e olhe, se ele quiser peito e coxas, diga-lhe que compre um frango, e que vá comer longe, para bem longe...

dona fernanda saiu a rir. pareceu-me que aliviada...













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