terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

digo-te













digo-te. estou sentada à mesa, na sala. cada perna está esticada por cima de duas cadeiras, à direita e à esquerda, tentam descansar os pés. finjo que trabalho e escrevo-te. adivinho-te. não te digo como, pois se o fizesse saberias que são para ti estas palavras. do meu lado esquerdo, bem dentro do ouvido ouço o permanente zumbido que aumenta de intensidade conforme o cansaço. está alto. à minha frente os dedos batem no teclado do computador. do lado direito, tenho os sons do trabalhar dos frigoríficos. uma lâmpada pisca no tecto da cozinha, é já a segunda a fundir. pousados na mesa estão uma factura da pt, um saco de pão que não comeram, uma garrafa de água, a fruteira com bananas maçãs e laranjas, uma jarra com cravinas envelhecidas, uma taça com beijinhos do mar e um amontoado de correio por abrir. não tenho nada que combine com a tua vida e em breve te cansarás de nasceres de sol e de ondas perfeitas. 

(também tenho a lua, sabes? que sobe no céu, às vezes, só às vezes, em frente ao sofá onde me sento ao domingo.)













3 comentários:

  1. eu digo-te que quem escreve assim diz tudo! E quem tudo diz, com a mesma facilidade sobre as lâmpadas ou as ondas, nã tem ponto de comparação... :)

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  2. Manuel, estragas-me com mimos, fico aqui toda nem sei como, assim como um acordeão a recolher devagarinho...

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