domingo, 24 de janeiro de 2016

encortiço














aquela mulher aplaude o homem vencido, com o olhar cheio de admiração e carinho. bem penteada, bem maquilhada e bem vestida. tem um ar inteligente por fora. imagino as conversas que ela poderá manter com, talvez, ele, a compreensão, os conselhos, a capacidade de ouvir, de consolar sem que ele perceba. tudo sem qualquer vislumbre de desalinho. 
olho por mim abaixo, nestas roupas sem jeito com que te recebi esta tarde, ainda mal chegado e eu já a desejar partido, enrodilhada nos cabos do computador, com as meias a fugirem dos pés. com este feitio terrível de me salvaguardar só. enquanto o homem na televisão repete obrigado obrigado obrigado, e eu acredito que pelo menos metade dos agradecimentos fossem para ela. eu sei, com alguma inveja, que nunca serei assim, em nada, nem de perto. encortiço-me a cada dia que passa. 

(ele tem razões, eu tenho desejos, diz aquela mãe, sem maquilhagem, sem penteados. para mim, as eleições valeram por esta frase.)